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2022.08.28 Cristiano Lopes Saito

Hibridização é o caminho ideal para garantir segurança e confiabilidade na transição energética

Em uma época em que muitas empresas desejam reduzir sua pegada de carbono, sistemas híbridos com fontes renováveis podem assegurar energia confiável e sustentável

Diante das mudanças climáticas e da crescente preocupação com o futuro do meio ambiente, a busca pela descarbonização passou a ser uma prioridade para muitas nações e empresas. O processo visa reduzir a emissão de gás carbônico e demais gases de efeito estufa em todas as frentes possíveis para desacelerar o aquecimento global. Seja por indústrias ou pessoas, o principal objetivo é conseguir a neutralidade climática na transição energética, com o uso de energias renováveis – como solar, eólica, biogás e biometano – em substituição aos combustíveis fósseis.

Procurando atender a meta da descarbonização e buscando um processo eficiente onde se possa conseguir neutralidade em carbono com o menor custo possível e maior segurança energética, o Brasil cresce cada vez mais em implementação de energias renováveis. Estamos em um país que por suas características climáticas e extensão continental foi de certa maneira muito privilegiado com a presença de fontes geradoras de energia variadas e em grande escala.

O território nacional possui amplas possibilidades de fontes primárias para a conversão em energia elétrica: fontes hídricas, eólicas, bem como a biomassa e energia solar, que se bem exploradas podem proporcionar economia, riqueza e ainda produzir energia menos danosa ao meio ambiente.

Entretanto, plantas solares e eólicas (e hidrelétricas em certas configurações) apresentam operação intermitente, isto é, a geração de energia está sujeita às condições instantâneas – de vento, insolação e caudal do rio. Por conta disso, especialistas apontam a necessidade de complementação com geração de energia térmica capaz de atender a demanda em momentos de indisponibilidade de renováveis. A hibridização, que consiste na combinação de diferentes recursos, e o uso de sistemas de armazenamento de energia com baterias (BESS) pode contribuir para o país, especialmente nos Sistemas Isolados.

Desafios da hibridização no complexo território nacional

Quando falamos de segurança energética, estamos abordando a questão do aproveitamento que se obtém ao utilizar diferentes fontes que se complementam por meio de sistemas de integração. Para exemplificar, quando se tem vento, utiliza-se a energia eólica gerada e quando não, outra fonte deve ser acionada pelo operador para complementar ou substituir, garantindo um fornecimento ininterrupto.

Em muitos dos sistemas isolados brasileiros, isto é, nas localidades desconectadas da rede de transmissão nacional (Sistema Interligado Nacional), uma única usina de geração deve por si só atender à demanda de energia, com grandes flutuações ao longo do dia e do ano.

No entanto, mesmo nestas localidades é possível reduzir a dependência de combustíveis fósseis e reduzir o custo da energia – pago por todos os consumidores através da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) através da hibridização. Uma série de inovações colaboram para o aumento das energias renováveis e, consequentemente, para construção de redes mais seguras, com associação de soluções híbridas e o potencial uso de sistemas de armazenamento de energia com baterias (BESS).

No entanto, existem obstáculos para a transição, já que mesmo com um ótimo potencial de instalação, ainda é preciso superar o desafio em encontrar o ponto de equilíbrio entre o custo da eletricidade e as emissões de carbono, como a atual crise energética na Europa desencadeada pela Guerra da Ucrânia demonstra.

Estamos diante de um cenário complexo, exigindo de nós a ponderação entre vantagens e desvantagens. Lembrando mais uma vez que o Brasil tem vantagens comparativas a outros países, operando com um sistema único, junto a complementaridade de regimes. Isso quer dizer que temos regiões propícias para diferentes tipos de geração.

No nordeste, existem locais considerados os melhores do mundo para plantas eólicas, enquanto ao norte de Minas e sul da Bahia encontramos os melhores pontos de insolação. Não existe uma fórmula exata para essa questão, no entanto, continuamos trabalhando para encontrar soluções que aumentem o potencial de expansão, como usinas associadas à produção de energia com biogás associadas a aterros sanitários ou usinas a biomassa, biogás ou biometano associadas ao processamento agropecuário com a utilização de resíduos vegetais e animais, podendo ser instalados por todo o país.

A mudança deve acontecer na matriz energética

As emissões de carbono per capita do Brasil associadas ao setor de energia equivalem a 1/7 dos EUA e 1 ⁄ 3 da União Europeia e da China, representando apenas 3% das emissões totais do país. Ao colocar esses números em comparação ao resto do mundo, junto ao fato de que estamos em constante avanço na participação de renováveis, que responde por 85% da geração de energia em 2020, é factível dizer que nossas questões problemáticas de emissão não estão na matriz elétrica, mas sim relacionadas às queimadas, agropecuária e indústria. No entanto, é importante que o setor elétrico brasileiro continue na fronteira com baixas emissões e segurança com custos decrescentes.

O fornecimento de soluções flexíveis que possam operar de forma híbrida e a partir de vários combustíveis possibilitam a geração de energia mais segura e a custo menor, atendendo os objetivos de redução de pegada de carbono. É a partir dessas tecnologias que nascem os sistemas híbridos, capazes de ter potencial ainda maior caso operados baseados em práticas que serão essenciais para uma transição energética efetiva e segura: descarbonização, descentralização e digitalização.

Claro, existem setores de difícil abatimento, mas são neles que aparecerão mudanças significativas, seja por complexos energéticos que iniciem o aproveitamento de outras fontes como hidrogênio e o diesel verde (HVO). Portanto, o planejamento setorial é o primeiro passo para qualquer cenário, tanto para os existentes quanto para os novos mercados.

Comprometimento com emissões net zero é ponto positivo

Nós já vemos uma movimentação de empresas que estão se comprometendo a reduzir suas emissões, isso tem se refletido em muitos estudos para os sistemas isolados, mas verificamos que a hibridização é o caminho ideal para um fornecimento seguro e estável. A fim de facilitar e pavimentar a transição energética em conjunto com as indústrias que estão em vias de reduzir seu impacto ambiental e pegada de carbono, a Aggreko desenvolve soluções operacionais e colabora cada vez mais com debates e estudos científicos do setor. É apenas o começo de uma longa jornada, visto que o compromisso de emissões net zero é feito de maneira voluntária e sem incentivos fiscais do governo para que empresas compensem ou estabeleçam metas de redução de GEE (Gases de Efeito Estufa).

Biogás e Biometano são essenciais

Como mencionado, a complementação térmica é fundamental para garantir a segurança para o país. E quanto mais flexível esta geração for melhor, garantindo que estas usinas sejam operadas apenas quando o operador assim o demandar. Neste sentido, a contratação pelo governo de plantas térmicas flexíveis através do leilão de capacidade (lastro) é uma medida correta.

Outro ponto a destacar, é que nem todas as térmicas operam com combustíveis fósseis. Ao que tange combustíveis à disposição, enxergamos o biogás e o biometano como oportunidades – no momento, representam 20% da energia gerada e consumida em todo o mundo. Temos mais de 800 plantas comerciais de biogás espalhadas pelo Brasil, com 2,3 bilhões de metros cúbicos por ano em produção de biogás e biometano, sendo que há o potencial de 84 bilhões de metros cúbicos. Logo, é um dever construir a escalabilidade dessas plantas.

Desafios à nossa frente

Nossos desafios incluem adequar condições institucionais, regulatórios e desenhos de mercado para potencializar a transição energética, a fim de articular com outros setores e tomadores de decisão a consistência de políticas e medidas de descarbonização. Sem esquecer o papel da inovação aberta nesse processo, para que diversas empresas colaborem para a construção de um novo modelo de negócio.

No mercado de diversos setores, as metas variam entre zerar, diminuir ou compensar as emissões de carbono. A Aggreko é um importante ator no desenvolvimento e fornecimento de sistemas isolados e está cada vez mais presente no Sistema Interligado Nacional. Logo, ao olhar para cada caso que estamos envolvidos, mais evidências surgem para provar que a combinação de diversas fontes é o melhor caminho para a transição tanto dos sistemas isolados com plantas híbridas como no Sistema Interligado com operação otimizada de diversas fontes, incluindo a complementação térmica flexível, especialmente se ela vier de combustíveis com menor emissão de carbono.

Cristiano Lopes Saito é líder de Desenvolvimento de Negócios Aggreko, responsável por projetos híbridos e soluções de armazenamento de energia.

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Cristiano Lopes Saito